quarta-feira, 7 de abril de 2010

O PAULINO


O Paulino
Encontrava-me eu no CIC fazendo parte do corpo de instrução quando apareceu no Centro de Instrução um puto preto muito pequenino amedrontado com medo de tudo e de todos pois, para ele tudo aquilo que via era novo , pois sempre viveu na mata. Vou tentar relembrar-me da história do Paulino. Já não me lembro qual foi a companhia de comandos que o trouxe para o hospital de Luanda talvez a 30ª C.CMDS. Num assalto a um acampamento quando se preparavam para retirarem do acampamento ouviram choros de criança ,e como todos somos humanos (os COMANDOS também o são) foram ao encontro do choro, e depararam com uma criança ferida a qual pegaram nela e pediram para ser evacuada para Luanda. Entretanto, a criança tinha uma serie de estilhaços no corpo e foi tratada no hospital. A criança teve alta do hospital, e foi entregue ao Centro de Instrução de Comandos. Não sei porquê, mas o puto deve ter engraçado comigo, pois nunca mais me largou. Arranjamos uma cama na caserna dos auxiliares de instrução, e lá permaneceu ele. Como era muito pequeno nem o nome dele sabia, e tratei de o baptizar e até lhe fiz um bilhete de identidade. Nome: Paulino Albino Fofo . Entre todos os auxiliares fizemos uma colecta para lhe comprarmos alguma roupita para ele andar bem vestidinho. Depois como era da praxe arranjamos um mini camuflado para ele e aí sim ficou um (verdadeiro comando). Começou por ser cabo, depois logo aspirante e por ultimo já era alferes. Alinhava connosco em tudo ,quer nas formaturas quer nas saídas á cidade. Era um show na cidade um puto preto de camuflado com crachá e dístico dos COMANDOS sem nunca ter tirado um curso. Como todas as crianças esta também fazia xixi na cama e lá estava o Ferreira a mudar-lhe a roupa da cama com bastante frequência. Um dia chateei-me com ele chamei-o junto à cama mostrei-lhe um corpo de uma granada de sopro (descarregada claro) e disse-lhe: Paulino vou por esta granada debaixo do teu colchão se por acaso mijares na cama vamos todos pró c……… .Nessa noite eu não dormi porque o Paulino volta e meia lá dizia: Ó Ferreira quero fazer xixi e dizia eu : levanta-te e vai fazer .E foi assim que essa noite decorreu eu não dormi mas o Paulino nessa noite nem nas seguintes fez xixi na cama. Uma coisa que ele não gostava era de ser despromovido por isso quando o queria castigar de alguma asneira que ele fazia eu tirava-lhe os galões de alferes e ponha as divisas de cabo e o Paulino nesse dia não saia da caserna com vergonha. Como todas as crianças o Paulino teria de ir para a escola. No CIC havia aulas e mandei o Paulino para a escola. Tinha livros e cadernos como os outros . Não me esqueço que um dia chega-me ele todo contente a dizer-me : Ferreira Ferreira já sei ler !! Ele abre o livro na folha que entendeu e começou a ler : “ o tanque nada no pato” na realidade no livro estava um desenho com um pato num tanque e estava lá escrito “ o pato nada no tanque” e mais “ a secretária está sentada no aluno “ e no livro estava “O aluno está sentado na secretária “ Eu perguntei-lhe quem lhe tinha ensinado aquilo e ele disse-me que tinha sido o Silva. Claro que o nosso amigo Silva o que era brincar com ele . Muitas mais histórias eu tinha para contar deste miúdo . Hoje um homem casado e pai de uma menina como vim a saber à cerca de dois anos através do nosso camarada o furriel José Fonseca (HK) que se encontra em Angola e teve a oportunidade de estar com ele no Huambo. Soube que ele viveu muito tempo no Porto e que por sinal até era compadre de um nosso camarada da 33ª C CMDS o Raul Andrade . Hoje tenho o contacto telefónico dele e pelo menos nas festas trocamos mensagens.
Armindo Ferreira

1 comentário:

  1. Fantástica história... o melhor do ser humano vem ao de cima, muitas vezes, nas circunstâncias mais difíceis, como imagino que terá sido a guerra do ultramar

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