quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

BICHOS e BICHINHOS de ANGOLA





BICHOS E BICHINHOS DE ANGOLA


Imediatamente após a chegada a África, qualquer nativo de outro continente, europeus em especial, é confrontado com a existência de animais até então por si desconhecidos.
Não, não estou a falar de leões, leopardos ou hienas! Nada disso.
Estou a falar de outros bem mais pequenos, e de aparência mais ou menos inocente, mas que nos infernizaram a vida durante toda a permanência em Angola, em prestação do serviço militar.
Naturalmente que eles também incomodam os civis, mas as condições de higiene precária que os militares amiúde enfrentam, convertem-nos em alvos preferenciais daqueles malandros.
Foi no decorrer do 22º Curso de Comandos, que eu e a maioria dos instruendos contactámos com eles pela primeira vez.
Vamos recordar:
MOSQUITO – Quem poderá esquecer aquelas tardes e noites de instrução na Funda? Era aí que podia ser encontrado o “supermosquito”. Variedade capaz de furar o melhor pano de camuflado, e que alguns dizem tão resistente que parecia ter ossos.
Lembram-se de um instruendo do curso de sargentos, que após uma noite na Funda, apareceu com a cara totalmente desfigurada devido a uma reacção alérgica ás picadas dos mosquitos?
KISSONDE ou KISSONDO – Formiga de uma agressividade incomum. Ao ser arrancada do local onde mordeu, deixa ficar a cabeça com as suas pinças bem cravadas na pele/carne da sua vítima.
Durante uma das saídas nocturnas, recebemos ordem para pernoitar numa encosta suave. Pouco tempo depois, alguns instruendos que tiveram o azar de se deitar sobre um carreiro de Kissonde, saltavam e gritavam desesperados enquanto se despiam, perante o olhar dos mais sortudos, que pouco podiam fazer para ajudar.
BITACAIA ou MATACANHA – Trata-se de uma pequena pulga, que põe os seus ovos para incubação num hospedeiro. No caso do hospedeiro homem o local habitualmente escolhido é o espaço entre a unha e a carne, a maioria das vezes nos dedos dos pés.
A retirada do saco tem de ser feita com muita perícia, para evitar o seu rompimento e consequente agravamento da situação.
Também tive a minha “dose”.
MIRUIM – Pequeníssima mosca que irrita qualquer “santo”. Aparece ás centenas, voando sempre á volta da cabeça. Olhos, nariz, boca e orelhas são os alvos preferidos.
Como era difícil comer a ração de combate, sem introduzir uma ou outra na boca.
O “nosso capitão Cruz” que não fumava, nem permitia fumar, pedia frequentemente um cigarro, para tentar afastar aquelas pestinhas com o fumo.
LARVA de MOSCA – Certo tipo de mosca, utiliza também um hospedeiro para fazer a postura e consequente desenvolvimento das suas larvas. Lembro-me vagamente de um dos nossos ter sido atingido, mas a recordação mais forte é a da visão de um pequeno cachorro com o corpo coberto de pústulas, que uma vez espremidas expulsavam uma repugnante larva. Felizmente, não afecta muito os humanos!
FILARÍASE ou ELEFANTÍASE – Esta doença, transmitida por algumas espécies de mosquito (não se propaga de homem para homem) caracteriza-se pelo aumento de volume descomunal de certas partes do corpo. Muitas vezes manifesta-se nas pernas. Mas um dos instruendos do curso de sargentos foi afectado pela doença nos testículos. Não tem graça nenhuma, tentar caminhar naquelas condições!!!
CARRAÇA – Deixei para o fim, um bichinho que também existe em Portugal, mas que em Angola tem outra dinâmica, dadas as características climatéricas favoráveis. Lembro que no regresso ao Luso, via caminho-de-ferro, após uns quantos dias em operações militares, comecei a sentir uma grande comichão numa das virilhas. Daí até baixar as calças para inspecção visual, pouco passou. E não é que tinha uma valente carraça alojada naquele local! Só de pensar nisso, já sinto arrepios…

Talvez algum bichinho me tenha escapado (afinal eles são tão pequeninos!), mas creio que eram estes aqueles que todos nós trazemos na lembrança. Fruto de uma época plena de dificuldades, mas simultaneamente de grande enriquecimento na vertente humana de toda uma geração.

Um abraço do
Augusto Fonseca

4 comentários:

  1. ...Sacanas de mosquitos esses referidos!acabavam por ser o inimigo,não só no curso,como na vida operacional!tenho saudades de muitas coisas passadas em Angola...mas disso nenhuma!!Então na Funda!Abraço e continua.

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  2. Quando estive em Cabinda o mosquito que nos dava cabo da cabeça era o "miruí", tão pequenino ele era que se enfiava pelo mosquiteiro sem problemas.

    Conforme conto num tema sobre o 27º Curso, um dos meus camaradas que tinha vindo comigo de N. Lisboa, foi mordido por um mosquito e o corpo ficou todo inchado. Mas se havia homem que queria ser Comando ele era um deles. Assim durante um certo período o grupo ia-o ajudando no que podia para ele não ser enviado para Luanda o que seria o fim do seu sonho, mas o corpo não aguentou e um helicóptero levou-o para o hospital militar.

    Sobre a elefantíase, infelizmente vi muitos casos, não com camaradas nossos mas nos nativos. E pelos vistos, que me lembre, não tinha cura.

    Faltam aqui as "matacanhas" chamadas também de "bitacaias" que se metiam nas unhas dos pés e a melhor forma de os retirar (assim como as carraças) era com o morrão do cigarro aceso.


    Belas histórias nos conta Augusto.

    Abraço!

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  3. Augusto

    Ou é da minha vista ou foram agora acrescentados dois insectos que não estavam no texto original, a matacanha e o miruí. Estou enganado ou estou com alucinações!

    :)

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  4. vejam o seguinte link:
    http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010&contentid=1FBF272F-26B1-4328-AC23-A38A653E042D#comentarios

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