quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A HISTÓRIA DO GALO


E agora a historinha do galo capturado:

Daquela vez, viajamos para Zala, local mítico do Norte de Angola. Estávamos em Agosto de 1973. O lançamento dos grupos fazia-se como que respeitando uma certa rotatividade.
Naquele dia foi a vez do 5º Grupo de Combate.
O alferes Aleixo, seu comandante, teve a companhia do Carmelindo Mesquita ( oficial do quadro que fazia um estágio na 33ª CCMDS).
A zona não era fácil dado o relevo acentuado e as caracteristicas da mata, mas o grupo lá foi progredindo rumo ao objectivo.
A aproximação fez-se nos moldes habituais, com as mãos a libertarem ligeiro suor e o coração a bater um poucochinho mais rápido do que o costume.
De repente, um sinal, um tiro, e toda a tensão acumulada se liberta através dos roucos gritos, que em louca correria rumo ao acampamento inimigo os homens libertavam, ao mesmo tempo que as armas se faziam ouvir.
A acção dura pouco tempo. Segue-se a rápida retirada para local seguro, uma vez que uma longa permanência dentro do acampamento, era muitas vezes mimoseada com uma chuva de granadas de morteiro, que convinha evitar.
Uma vez longe do local, foi tempo de conferir resultados.
Para além dos aspectos puramente militares, foi capturada varia documentação e ... UM GALO!
Mas este não era um galo comum, como mais tarde se pôde confirmar, este era um galo muito especial!
Começou a perceber-se isso mesmo, logo após o primeiro exame visual, ou seja; este galo usava coleira.
Era uma espécie de tubo elástico á volta do pescoço, fabricado com material da floresta, que uma vez apertado o impedia de cantar e evitava assim que o acampamento fosse fácilmente detectado.
Como bom transmontano que é, o alferes Aleixo, era já nessa época um adorador de coisas rústicas. Escusado será dizer este galo e a sua bizarra coleira, foram de imediato objecto de redobrada atenção e cuidados.
Quando chegou a hora aprazada para o regresso a Zala, o galo capturado acompanhou o 5º grupo sempre sob o olhar protector do alf. Aleixo.
Uma vez em Zala, o galo foi amarrado a uma espia das traseiras da tenda dos oficiais, e foi-lhe retirada a tão interessante quanto incomodativa coleira. Resultado: no dia seguinte era ainda madrugada, e o famoso galo estava já a acordar toda a gente.
De inicio todos nós lhe achámos graça, mas uma hora mais tarde sem conseguir dormir aquele bocadinho tão saboroso, o galo começou a estar a mais...
Todos ficavam incomodados, mas o alf Figueiredo, esse "ia aos arames". De tal modo que chegou a sair para atirar uma bota ao galo, vociferando alguns impropérios mais ou menos comungados por todos os outros.
O nosso capitão estava de licença e regressava em breve. Foi decidido adiar a "execução" do galo, para que também ele sentisse os "benefícios" de um animal tão madrugador.
Enfim, chegou o "capitão Cruz". Já todos nós gozáva-mos antecipadamente a cena. Só queríamos passar a noite rapidamente para assistir á sua reacção.
A noite passou, o dia clareou e o galo mantinha-se misteriosamente mudo. Que se passa? perguntáva-mos com o olhar uns aos outros. Mas nada! o galo não cantou vivamente, nem nesse nem nos dias seguintes. Apenas uns raros e tímidos cacarejos saíam daquela garganta, outrora enfeitada pela engenhosa coleira. Vergonha de galo!!!
Bom, o final de Agosto aproximava-se e com ele a data do meu aniversário. E comecei a colocar a mim próprio uma questão: será que vou comemorar a minha data de nascimento na mata? A meio de uma operação militar?
E a temida noticia acabou por chegar! Ia para a mata na véspera do dia D. Um pouco triste, engoli em seco e desisti da ideia de tomar um bom par de copos com os amigos. Nada a fazer, pensava eu. Mas qual quê! Na noite anterior ao dia da minha partida fui brindado com um verdadeiro banquete, preparado em segredo pelo Aleixo e pelo Carmelindo Mesquita. E adivinhem qual era o petisco principal! Pois é, foi mesmo o tal galo capturado ao inimigo. Triste fim para um galo com tanta história.
Os anos passaram e, tal como diz o povo, a verdade é como o azeite vem sempre ao de cima.
Finalmento foi desvendado o segredo.
O coitado do galo nunca cantou! Quem imitava e bem, o cantar do galo, era o primeiro cabo mecânico Isidoro, que se divertia imenso todas as manhãs a chatear os alferes ( em especial o Figueiredo) mas que não teve coragem de cantar, após a chegada do comandante da companhia. Eu não vos dizia que era um "galo muito especial"?

Um abraço
Augusto Fonseca

3 comentários:

  1. Viva Camarada:
    Dessa cena não tenho conhecimento,mas acho que o galo durou muitos dias!Lembro sim, essa saída para Zala,foram 3 Companhias,33ª-37ª-2042ª.Foram 15 dias bem puxados da malta,com um episódio que se devem lembrar:Uma grande Maka com a tropa normal já noite,a que não faltou o fogo de artificio,sobre as viaturas estacionadas no campo de futebol!A Maka foi desencandeada por elementos da 42ª ainda maçaricos mas a querer seguir a tradição dos mais velhos!Um abraço amigo

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  2. Em 1972, já não recordo em que mês, fui requisitado á companhia, juntamente com o alf. Faceira para ir dar instrução no CIC. Colaboramos na parte final de um curso constituido apenas por futuros oficiais, e no curso que se seguiu, que creio foi o curso da 2042. Eu fui instrutor do P5 se a minha memória não me atraiçoa. Juntamente com o 1ºcabo Lemos e o furriel.....? O nome Robim não me é estranho. Por acaso não foste meu instruendo? No final desse curso (entrega de crachás)fiquei muito honrado quando me nomearam adjunto do comandante das forças em parada. Abraço amigo do Ex-Alf Fonseca

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  3. Agora já sei o motivo do nosso comandante dizer no dia do nosso encontro em Alfezeirão quando o Germano lhe entregou uma lembrança (2 galos de luta)ele ter dito que pensava que a ideia dos galos ser do Isidoro....Para mim era novidade pois eu não conhecia a história mas agora juntando as duas partes cheguei a uma conclusão.

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